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Avaliador ajudou a criar fórum de coordenadores de pós-graduação

Fórum Nacional de Coordenadores de Pós-Graduação da Área 21 é o espaço em que os responsáveis pelos programas de Educação Física, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional discutem pormenores do processo avaliativo. Consultor na Avaliação Quadrienal 2021-2024, Edison Manoel ajudou a criar esse espaço.

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Fale de sua relação com a avaliação da pós-graduação.
Eu retornei do doutorado no exterior em fevereiro de 1994 e, cerca de um ano depois, fui convidado a atuar como consultor da CAPES/MEC para fazer uma visita a um programa de pós-graduação (PPG) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que era o segundo programa criado na área básica de Educação Física. Foi uma experiência marcante, mas nem sempre de boa memória: o PPG estava em vias de fechar por falta de renovação do corpo docente, em sua maioria aposentado ou prestes a se aposentar.

Foi marcante porque aquele programa foi um dos pioneiros na área (juntamente com o da Universidade de São Paulo e o da Universidade Federal de Santa Maria). Estava ali para constatar que o ciclo daquele programa havia terminado. Felizmente, esse PPG renasceu duas décadas depois e hoje faz parte dos programas reconhecidos pela CAPES/MEC na área 21 (Educação Física, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional). Depois dessa experiência, passei a ser chamado regularmente para emitir pareceres sobre pedidos de concessão de bolsa no exterior.

E como foram essas experiências subsequentes?
De 1996 a 2001, participei das comissões de avaliação continuada e de 2002 a 2010, da comissão de avaliação permanente. Entre 2002 a 2004, fui coordenador adjunto da área 21, a convite do professor Eduardo Kokubun, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), o então coordenador junto à CAPES/MEC. Ajudei-o na orientação e constituição de práticas de maior transparência dos processos de avaliação, além de incentivar os coordenadores dos PPGs a participarem ativamente da discussão dos processos avaliativos.

O professor Kokubun mostrou aos coordenadores a importância de eles constituírem um fórum de PPGs para dar voz a todos os envolvidos na pós-graduação: professores permanentes e pós-graduandos. Com isso, discussões importantes da pós-graduação, como os objetivos do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG), critérios de qualidade e critérios de avaliação, passaram a ser compartilhadas no Fórum Nacional de Coordenadores de Pós-Graduação da Área 21.

Outro marco dessa gestão 2002-2004 foi a instituição de comissões de coordenadores de PPG para discutir os diferentes critérios de avaliação. Em especial, uma das comissões criadas foi a da Avaliação do Livro, coordenada por mim, e que teve como um dos participantes o professor Rinaldo Guirro, coordenador da Área 21 nas últimas duas avaliações gerais da pós-graduação.

A avaliação do livro era um nó em toda avaliação, posto que não se sabia como avaliá-lo e quase sempre os critérios eram inadequados a essa produção e consequentemente o resultado era injusto. O diretor de Avaliação da CAPES/MEC à época, professor Renato Janine Ribeiro, deu todo apoio para construção de uma proposta de avaliação do livro e mais de uma vez ele nos atendeu para discutirmos a respeito e chegou até a participar de uma de nossas reuniões na CAPES/MEC.

O resultado desse trabalho foi a proposição de uma metodologia de avaliação de livro implementada logo a seguir, na Avaliação Trienal daquele período. Após deixar a Comissão de Avaliação Permanente, em 2008, eu e meus colegas fomos convidados pelo novo coordenador da Área 21 a continuar coordenando os trabalhos da avaliação de livros, que passou a ser conhecida como Qualis Livro.

Em 2010, todos nós deixamos esse trabalho. Voltei a participar da Comissão de Avaliação de Livros e das Comissões de Avaliação Quadrienal em 2021, dando sequência à minha participação em ambas, mais a Comissão de Avaliação Qualitativa na última Quadrienal, agora em 2025. No total julgo que participei de quatro grandes avaliações, as primeiras duas trienais nos anos 2000, e as últimas duas, em 2022 e em 2025.

A sua trajetória se deu, da graduação ao mestrado, na USP, onde é professor hoje. No doutorado, estudou no exterior com bolsa CAPES/MEC. Qual foi a importância desse auxílio?
Fiz meu doutorado na Inglaterra graças à bolsa da CAPES/MEC. Sem esse auxílio, eu jamais teria tido condições de ir para o exterior em 1989. Ainda mais se considerar que nessa época havia sempre grande incerteza financeira no país em função das seguidas crises econômicas, com hiperinflação.

Os bolsistas brasileiros que estavam na Inglaterra nessa época temiam que essa crise afetasse o pagamento das bolsas, o que nunca aconteceu. Destaco o cuidado que o corpo de funcionários da CAPES/MEC tinha para conosco. Devo lembrar que nessa época não havia e-mails ou internet. Toda comunicação era por carta ou telefone (em casos urgentes), e o corpo de funcionários nunca deixou de nos atender com toda atenção do mundo.

Minha pesquisa tratou do desenvolvimento de ações motoras em crianças em diferentes estágios de desenvolvimento, com grupos de 2 a 4 anos e de 5 a 9 anos de idade. A minha tese foi demonstrar a importância da variabilidade de movimentos para o desenvolvimento da competência de ação das crianças. Essa orientação era uma novidade na época, pois a variabilidade de movimento era tida como negativa para o desenvolvimento e, portanto, deveria ser eliminada.

Explique o que é o Grupo de Estudo Desenvolvimento da Ação e Intervenção Motora.
Esse é o nosso grupo de pesquisa aqui na USP e sua denominação é decorrência direta do meu doutorado na Inglaterra com bolsa da CAPES/MEC. Normalmente se usa o termo “desenvolvimento motor” para caracterizar o estudo das mudanças na capacidade de se movimentar que as pessoas passam ao longo do ciclo de vida. Todavia, os métodos de estudos, ao enfocarem o movimento corporal, implícito no termo “desenvolvimento motor,” acabam por negligenciar o contexto em que os movimentos são organizados e executados pela pessoa.

Ao trocarmos o “motor” pela “ação”, reconhecemos que o desenvolvimento chamado de “motor” é um processo mais complexo que envolve a contextualização dos movimentos para criar espaços de ação motora que é pessoal, social e coletivo. Assim, nosso grupo segue uma tradição importante na Biologia Evolucionária e Psicologia Cognitiva que, sem negar a importância da análise comportamental (foco no comportamento como efeito dos condicionamentos operantes), agrega o contexto físico e sociocultural na análise dos movimentos de bebês e crianças.

Em última análise, no Grupo de Estudo Desenvolvimento da Ação e Intervenção Motora, nos propomos a investigar o Desenvolvimento da Ação como um processo de construção de Agência seja em bebês, seja em crianças. Sou coordenador e um dos fundadores do grupo.

Em resumo, o que destacaria de sua história com a CAPES/MEC?
Os destaques são muitos, mas em diferentes dimensões. Ao me conceder a bolsa de doutorado no exterior, a CAPES/MEC me proporcionou uma formação sem igual, pois tive a oportunidade de ser orientado por um dos psicólogos do desenvolvimento mais respeitados no mundo em sua época, Kevin Connolly (1937-2015).

Outra dimensão que eu destaco é a da avaliação. Aliás, eu tenho dito que, se me perguntarem quais as minhas contribuições no campo acadêmico e universitário, uma delas foi trabalhar para tornar a avaliação da pós-graduação na CAPES/MEC um processo de transparência e de compartilhamento de juízos entre quem avalia e quem é avaliado, tornando a avalição um processo chamado de quarta geração.

O fato de ter participado da ação de incentivar os coordenadores dos PPGs a constituírem um fórum de pós-graduação foi crucial para ganhar transparência e fazer caminharmos para uma avaliação, antes de tudo, construtiva. Outra contribuição foi construir uma metodologia de avaliação de livros que acabou por ser usada como matriz para orientações conduzidas em outras áreas de avaliação.

Fonte: CAPES

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