Mercado de data center deve dobrar no Brasil em três anos, aponta Oliver Wyman
O mercado brasileiro de data center, em termos de capacidade, deve mais do que dobrar nos próximos três anos, gerando, inclusive, oportunidades para o setor de telecom. Contudo, a tributação sobre equipamentos e, sobretudo, o custo da energia elétrica são desafios que podem dificultar o posicionamento competitivo do País no mercado global.
Esta é a avaliação da consultoria Oliver Wyman sobre o setor de data centers no Brasil, obtida com exclusividade por TELETIME.
Atualmente, os centros de dados no território nacional têm uma capacidade somada de quase 800 megawatts (MW), o que equivale à metade da potência disponível em toda a América Latina. A expectativa da consultoria é de que a capacidade ofertada no Brasil chegue a 1,8 gigawatts (GW) em 2028 – no mais tardar em 2029.
Neste cenário, o processo de disseminação de sites pelo País também deve ocorrer, com o estado do Rio de Janeiro alcançando 10% de participação de mercado e outros 10% espalhados pela região Sul, Minas Gerais e Ceará. Ainda assim, o território paulista ainda liderará, com folga, em capacidade disponível, respondendo por 80% da potência nacional.
“O mercado de colocation no Brasil é estimado de US$ 1,5 bilhão a US$ 1,6 bilhão. A expectativa é de que chegue a US$ 3 bilhões nos próximos cinco anos“, afirma Vinicius Miloco, diretor das práticas de Comunicação, Mídia e Tecnologia da Oliver Wyman.
Segundo o executivo, na atualidade, dois terços dos serviços de colocation (quando uma empresa aluga um espaço em um data center para hospedar sua infraestrutura de TI) são contratados no varejo. No cenário projetado, o mercado de atacado, atualmente menor, deve crescer mais, praticamente dividindo a capacidade instalada no País. Este movimento deve ser liderado por hyperscalers (empresas que fornecem serviços de nuvem em larga escala).
Telecom e IA
Na avaliação de Miloco, o crescimento do mercado de data centers vai impactar diretamente o setor de telecomunicações. Por exemplo, com maior capacidade de processamento de dados e uso de Inteligência Artificial (IA), espera-se que operadoras e provedores sejam capazes de apresentar ofertas cada vez mais personalizadas aos clientes.

Mas, de acordo com o executivo, em função de um processo de desinvestimento em data centers há alguns anos, as telcos terão de firmar parcerias com provedores de nuvens e centros de dados para entregar, além de conectividade, capacidade de processamento de dados – o que vai ser cada vez mais exigido em uma economia que utiliza ferramentas de IA.
“Como provedoras de conectividade, existe um mundo super-relevante para elas. Tal qual um data center consome muita energia, também consome muita banda de Internet. Então, se associar a esses ‘colo-providers‘ [empresas de colocation], do ponto de vista das telcos, é bem importante”, destaca Miloco.
“Ser o player que vai prover conectividade tanto para data centers ‘megalomaníacos’ como ser o ponto de conexão para data centes edge é um negócio relevante“, acrescenta.
Energia cara no Brasil
Em sua avaliação sobre o crescente mercado brasileiro, a Oliver Wyman aponta que o custo da energia pode definir se o País será um player internacional ou não para processamento de dados.
Isso porque 50% dos custos de operação de um data center estão relacionados à eletricidade, segundo a consultoria. Para clientes industriais, o preço do quilowatt-hora (kWh) no Brasil (US$ 154) é quase o dobro do cobrado nos Estados Unidos (US$ 81), levando em conta preços médios de 2023. Com incentivos de autogeração e fontes renováveis, a diferença diminui consideravelmente, mas o Brasil ainda segue mais caro (US$ 88).
“A gente pode falar em um mix de fontes de energia, mas, se não forem renováveis e baratas, a gente vai perder competitividade para outros países. E não precisa nem ir tão longe, a Argentina está aqui do lado”, alerta Rodolfo Taveira, líder para o Brasil de Energia e Recursos Naturais da Oliver Wyman. Na Argentina, o custo médio do kWh é de US$ 90.

Taveira ainda salienta que o custo da energia não deve ser resolvido pela Política Nacional de Data Centers, ainda em elaboração, ou pelo Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center (Redata), cuja medida provisória depende de aprovação do Congresso Nacional.
“O buraco é mais embaixo. A maneira que o setor elétrico está estruturado não fomenta a competição em termos de custos para o usuário final. Basicamente, a gente divide uma conta todos juntos”, diz o especialista da consultoria.
“Temos encargos sobre encargos – e não é de agora, acontece há bastante tempo. Mas, para algumas indústrias, é um deal breaker [fator decisivo]. Para data centers, é 50% do custo de operar”, reforça.
De todo modo, Taveira reconhece o potencial de crescimento do setor de data centers no País, tendo em vista o tamanho do mercado consumidor e a expansão contínua do uso de IA. No entanto, ressalta que o custo operacional pode definir a participação do País no tabuleiro internacional.
“Se a gente for pensar em competir para exportar processamento, concordo que podemos ser atropelados por vizinhos que se movem mais rápido, com um custo de energia mais barato e uma lógica de investimento mais simplificada”, resumiu.
Fonte: Teletime