Modelos disruptivos para satélite enfrentam problemas reais, mas prometem transformação
A Iridium é uma das empresas pioneiras na comunicação direta entre dispositivos e satélite, com cerca de 25 anos de existência. A empresa foi uma das primeiras a desenvolver uma constelação de múltiplos satélites dedicados a serviços de voz, ainda no começo dos anos 2000, mas o modelo fracassou e em uma primeira grande crise, a empresa simplesmente destruiu todos os seus satélites porque o custo de mantê-los era simplesmente muito mais elevado do que as receitas que poderiam ser geradas. Com o tempo, a Iridium se reposicionou como uma prestadora de telecomunicações remotas atendendo a nichos mais específicos.
Desch é extremamente cauteloso ao falar de comunicação direta via satélite nos moldes em que se coloca hoje, em que a comunicação 5G se dará sem nenhum intermediário com os satélites e sem a necessidade de equipamentos especiais..
Segundo ele, existe um desafio de coordenação bastante complexo entre diferentes países, há a necessidade de aprovação em centenas de países e ninguém ainda sabe como serão os futuros modelos de negócio pensando em comunicações massivas. ” Eu entendo que esse mercado (de comunicação direta via satélite) só se desenvolverá plenamente quando as empresas de telecomunicações passarem a fazer investimentos nessa tecnologia”, diz ele.]Ele aponta a dificuldade de definir como serão os modelos de negócio, as aplicações viáveis, os serviços mais demandados e, sobretudo, como será a coordenação de espectro e frequências entre diferentes players e operadoras de telecomunicações.
Para Desch, esse mercado de comunicação direta via satélite com todo o conjunto de aplicações atuais, de voz, dados e banda larga, ainda precisará de anos até a maturidade, lembrando que no caso do Iridum são terminais especiais utilizados e o serviço tem um custo condizente com as situações excepcionais em que o serviço é utilizado.
A visão cautelosa do CEO da Iridium contrastava com a visão otimista e entusiasmada da Lynk, uma startup que alega ter as patentes e estar pronta para lançar os serviços com mais de 40 operadoras em todo o mundo, em contratos que superam os US$ 2 bilhões.
Charles Miller, CEO da empresa, explica que o projeto está sendo desenvolvido desde 2016, com os primeiros satélites lançados em 2019 e que a inovação da Lynk é a possibilidade de comunicação direta via satélite com qualquer dispositivo móvel, e não apenas aparelhos específicos. “Desenvolvemos a tecnologia e a diferença é que somos uma empresa completamente integrada verticalmente. Com isso, mudamos o patamar de custo dos satélites para US$ 200 mil, e isso abre outras perspectivas de custo dos serviços. “O ponto de partida precisa ser o baixo custo do satélite. É isso que permitirá serviços mais baratos”, diz ele, dizendo que a oportunidade está em entrar no mercado de comunicações móveis, que atende bilhões de pessoas mas que ainda tem outras tantas sem conexão e sem cobertura nas redes terrestres.
O CEO da Iridium, por outro lado, rebateu lembrando que existem outros desafios, como o ARPU dos serviços em países em que existe os maiores déficits de conectividade (ele citou o exemplo da Índia, em que a receita média é de menos de US$ em alguns casos) e,, sobretudo, de coordenação de espectro e frequência entre países.
Miller, o CEO da Lynk, admitiu que em alguns casos as questões regulatórias podem ser um impeditivo para o lançamento do serviço e disse que a empresa deve priorizar os países em que não existem grandes restrições à comunicação direta por satélite, mas reconheceu que essa coordenação pode ser um problema no futuro.
Round 2: SES sem competir com 5G
O segundo round das brigas entre players tradicionais, ou mais estabelecidos, e novos desafiantes de mercado se deu quando a Mangata Networks, que pretende operar serviços globais de satélite para comunicação IoT, disse que acredita no modelo de comunicação direta ao dispositivo e vê claramente o novo setor de satélites brigando diretamente com os prevodes de banda larga.
Em paralelo, Ruy Pinto, CTO da SES, disse acreditar muito mais em soluções multi-orbit e rechaçou qualquer argumento de que o mercado de satélite poderá ser competidor direto das operadoras de 5G ou fibra. “No nosso entendimento, não faz sentido nós, do setor de satélites, entrarmos dessa forma para competir com nossos clientes”, diz Pinto.
Pinto também defendeu um esforço maior da indústria de satélites em relação à padronização, enquanto Holz, da Mangata, disse que o que determinará o esforço de arquitetura e consolidação da indústria deve passar sobretudo pelo rumo com que o mercado de cloud está se desenvolvendo. “Estou convencido de que não há nada que a gente possa fazer sem entender as demandas e tendências do setor de nuvem”. Segundo Holz, a maior revolução do mundo das comunicações virá justamente das mudanças na arquitetura dos serviços em nuvem, com a descentralização dos centros de dados e processamento, e é a partir dai que as redes de comunicação, sobretudo satélite, precisarão se configurar.
Fonte: Teletime