Mais que supercomputador top 5, Brasil precisa de dezenas de milhares de engenheiros
O governo federal apresentou nesta terça, 30/7, o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, que alinha 54 ações estruturantes, 31 delas de impacto, para alavancar R$ 23 bilhões de investimentos nessa área até 2028. Mas como destacou o professor e pesquisador Silvio Meira ao discutir o PBIA na Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, a dor maior é em gente.
“O plano tem densidade e perspectiva de realização concreta. E precisa ser dinâmico. Porque a dinâmica de evolução com a publicação de algoritmos de IA online e códigos para qualquer um usar, redesenhar modelos, ou estudar profudamente, fez uma explosão da evolução de grandes modelos linguísticos, fez um surto de evolução de IA. Isso exige que a gente repense a velocidade em que formamos capital humano complexo, sofisticado. Formar um PhD em inteligência artificial no limite das competências de IA que vemos no mercado, exige engenharia, matemática, computação. Se houver coindições da pessoa, um doutorado, no mínimo. Isso leva 10 anos. Por isso, a estratégia tem que olhar para o longo prazo. Muito longo, não só 2028. Não é uma maratona. É o ultra ironman. Muito mais que um computador top 5, vamos precisar de brainware. Vamos precisar de dezenas de milhares de engenheiros para que um plano desses tenha impacto na sociedade brasileira”, afirmou Silvio Meira.
Por um lado, isso implica em mudar, muito rapidamente, o processo educacional. “Senti falta dos professores no plano de forma mais estratégica. Se a gente não começar, rapidamente a redesenhar nossos modelos de aprendizagem, de educação, formação, treinamento, brainskilling e upskilling numa velocidade que a gente nunca fez, muita gente vai ficar para trás”, destacou o professor e pesquisador.
Por outro lado, é ilusório acreditar que é possível proteger empregos. Silvio Meira lembrou um estudo recente do Goldman Sachs, que inclui o Brasil, aponta para um impacto da IA sobre 17% dos empregos formais do mundo – percentual que chega a 25% no Brasil.
“Tem uma frase no plano que me preocupa. Porque a história da humanidade diz que em vez de proteger trabalho e emprego, deveriamos proteger a pessoa como trabalhador. O problema é como ajudar a pessoa a se redesenhar depois que passa uma barra de uma tecnologia de propósito geral. Porque como ninguém veio para este auditório de carruagem, não tem mais emprego de cocheiro. A gente tem que proteger o trabalhar como ser humano e não o trabalho. Porque não vai dar para proteger um número grande de casos.”
Fonte: Convergência Digital