Indústria cobra política de semicondutores; quais oportunidades têm o Brasil?
Com os semicondutores no centro das atenções globais, uma política nacional para investimentos na área voltou a ser defendida pela Abinee, da indústria eletroeletrônica, como parte de um plano de reindustrialização do Brasil. Ao TELETIME, a entidade também listou quais oportunidades o País teria no segmento.
“É fundamental a implementação de uma política estruturada voltada ao desenvolvimento da indústria de semicondutores”, defendeu o presidente da Abinee, Humberto Barbato, na abertura da feira FIEE, realizada nesta terça-feira, 18, em São Paulo. A ocasião reuniu o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, além dos presidentes da Anatel, Carlos Baigorri, e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, entre outros.
Na ocasião, a Abinee apontou os efeitos da crise atual no abastecimento dos semicondutores e os impactos nas cadeias de TICs e automotiva como evidência da necessidade de políticas brasileiras para a área, voltadas à atração de investimentos e atualização do parque fabril doméstico.
“Embora a renovação do Padis até 2026 tenha sido um grande uma grande conquista do setor, a adoção de ações adicionais para atração da indústria de componentes e semicondutores é mandatória para que o Brasil garanta a sua emancipação tecnológica e se posicione melhor nas cadeias globais de valor, diminuindo sua dependência externa”, afirmou Barbato, na abertura da FIEE.
Oportunidades
Ao TELETIME, o diretor da setorial de telecomunicações da Abinee, Wilson Cardoso, listou algumas das oportunidades que o Brasil poderia explorar. Uma delas é aproveitar a brecha gerada pela mudança tecnológica – e que deve levar players globais a focarem cada vez mais em semicondutores de ponta.
O movimento abriria espaço para novos atores suprirem a demanda por itens considerados menos sofisticados em um futuro próximo, como os embarcados nos eletrodomésticos – de televisões a geladeiras – e automóveis atuais. “Temos grande chances de nos tornarmos fabricantes desse legado tecnológico”, afirmou o diretor setorial da Abinee.
Uma outra possibilidade seria casar uma possível produção no Brasil com a demanda já existente no País – como por exemplo, a da cadeia do agronegócio, afirma Cardoso (que também é CTO da Nokia na América Latina). No cômputo geral, a disponibilidade hídrica do País também seria um diferencial na inserção na cadeia global dos semicondutores, visto que a água é elemento essencial na fabricação dos chips.
Retomada
Para a Abinee, a política nacional de chips ainda deveria passar por investimentos em educação e qualificação profissional, além de incentivos para incorporação de novas tecnologias em produtos. Uma delas pode ser o 5G, considerado pela indústria eletroeletrônica como alavanca para a produtividade e para o surgimento de produtos.
Na FIEE, a associação também realizou uma defesa de reindustrialização do País que permita retomada da participação do setor no PIB (hoje em pouco mais de 12% no caso da indústria de transformação, após já ter atingido 20%) e da produção brasileira frente à global (o País já respondeu por 3% do volume mundial, sendo 1,3% atualmente).
Além de semicondutores e 5G, a estratégia brasileira também deveria passar por elementos como a transição energética e o chamado nearshoring, notou a CNI. “Esse é o momento de resgatar a manufatura e a indústria”, afirmou o presidente da confederação, Ricardo Alban.
Neste sentido, a reforma tributária aprovada na Câmara foi apontada pelo segmento como grande avanço, ainda que pendente de aprovação no Senado. A Abinee defendeu novamente um novo sistema de tributação que simplifique o arcabouço atual, reduza a cumulatividade e acabe com a “absurda tributação dos investimentos” que dificulta a produção de itens de valor agregado. A atenção para particularidades do setor também foi cobrada pela associação, em referência à Lei de TICs e à Zona Franca de Manaus.
Fonte: Teletime