Governo da Paraíba fortalece cooperação científica internacional para preservar e impulsionar patrimônio paleontológico do Sertão
A bacia sedimentar do Rio do Peixe guarda vestígios milenares que revelam conexões pretéritas da ligação territorial entre o Brasil e a África, quando no mundo havia uma só plataforma continental. Fala-se de um patrimônio mundial. O tema foi debatido no I Congresso Internacional de Paleontologia da Paraíba, e no I Fórum Ensino Superior: Atualização e Expansão Curricular na Paraíba, realizados em Sousa no último final de semana.
O evento é realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) e integra o projeto de pesquisa em Paleontologia e Arqueologia na Bacia Sedimentar do Rio do Peixe.
Autoridades internacionais, gestores públicos, cientistas e professores, ambientalistas e pessoas interessadas frisaram a relevância de preservar os indícios paleontológicos e arqueológicos, e as oportunidades que podem alavancar a economia da região. Durante o Congresso, firmou-se parceria para a cooperação científica com instituição italiana, além de lançamento de livro.
Referindo-se aos conhecimentos transmitidos pelos especialistas, Cláudio Furtado, secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior da Paraíba (Secties), menciona que a região guarda vestígios de atividades de animais e vegetais, os icnofósseis, de um período quando ainda não havia o Oceano Atlântico. “A bacia sedimentar do rio do Peixe é única por ser um retrato geológico de uma época em que a América do Sul estava conectada com a África. Há vários aspectos encontrados aqui e no continente africano como os icnofósseis de animais pré-históricos, conchas, vegetação e outros”, afirma.
A valorização de tal patrimônio natural – atualmente são 42 sítios catalogados – foi um dos tópicos que convidou para a conversa os diversos setores da sociedade. Desde o pensamento produzido nas universidades até a conscientização dos estudantes nos bancos escolares, o compromisso de gestores e da população, são braços que fortalecem ações de preservação, pesquisa e, inclusive, de desenvolvimento econômico.
Demonstrando isso, o Dr. Juvandi Santos, professor da UEPB e Coordenador do Projeto de Pesquisa em Arqueologia e Paleontologia na Bacia do Rio do Peixe, ressaltou: “Esse projeto, além de trazer o conhecimento científico, também tem movimentado a comunidade com relação a preservação desses ambientes naturais e culturais”.
De acordo com o secretário, os debates levantados durante o congresso influenciarão a política pública que definirá a implementação dos equipamentos que compõem o Complexo Científico do Sertão. “Por exemplo, a inserção de uma trilha de conhecimento que começa em Carrapateira, passa por Sousa, pelo Vale dos Dinossauros, e depois segue para o Museu de Arqueologia da Paraíba em Cajazeiras, como foi apresentado aqui”.
O Complexo Científico do Sertão é um conjunto de equipamentos distribuídos em municípios próximos entre si, conforme a vocação científica de cada um: Aguiar, onde está em construção o radiotelescópio Bingo; Carrapateira, que sediará a Cidade da Astronomia, Cajazeiras, onde está o Museu de Arqueologia e Sousa, com o Vale dos Dinossauros. Essa região ostenta a beleza de serras na Caatinga, cachoeiras, sendo também um atrativo natural. Desse modo, o visitante tem uma trajetória compensadora. Esses assuntos foram abordados no I Fórum Ensino Superior: Atualização e Expansão Curricular na Paraíba, além de discutir as demandas de formação em níveis tecnológico, superior, de pós-graduação e pesquisa.
O secretário Claudio Furtado acrescentou: “Em breve o governador João Azêvedo deverá assinar um acordo de cooperação com o governo italiano, via embaixada, para realizarmos intercâmbios tanto de pesquisadores da Paraíba para a Itália, a instituições de paleontologia e arqueologia e de outras áreas. Bem como a vinda de pesquisadores italianos para que a gente possa beber das experiências de outros museus científicos e, junto com a comunidade, reforçar cada vez mais o nosso Complexo Científico do Sertão”.
As articulações para esta cooperação, que incluíram o adido da embaixada da Itália no Brasil Fábio Naro, foram ratificadas pela assinatura de um Memorando de Entendimento entre o Muse – Museo delle Scienze di Trento, representado pelo seu diretor, Massimo Bernardi, e a Secties. A cooperação faz parte do programa “Paraíba sem Fronteiras”, política pública criada para internacionalizar a ciência, tecnologia, inovação e ensino superior no estado. Dentre os objetivos estão iniciativas conjuntas nas áreas de pesquisa paleontológica, capacitação profissional, inovação tecnológica e engajamento público.
Livro científico projeta a Paraíba em campo internacional
Na solenidade de abertura do I Congresso Internacional de Paleontologia da Paraíba foi lançado o livro “Dinosaur Tracks of Mesozoic Basins in Brazil: Impact of Paleoenvironmental and Paleoclimatic Changes” (Pegadas de Dinossauros nas Bacias Mesozóicas do Brasil: Impacto das Mudanças Paleoambientais e Paleoclimáticas – tradução livre) resultado de pesquisas do cientista italiano Giuseppe Leonardi e do professor e cientista Ismar de Souza Carvalho, referência nacional em paleontologia, do Instituto de Geociências (IGeo) e da Casa da Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Este livro apresenta a diversidade de pegadas de dinossauros encontradas em bacias mesozóicas no Brasil, e projeta internacionalmente os registros da bacia sedimentar do rio do Peixe. É direcionado a geocientistas e paleontólogos.
Serviços paleontológicos são reconhecidos
Quem faria uma viagem de cinco dias num Fusca amarelo, saindo do Paraná, para chegar a uma cidade pequena, no sertão do Nordeste, em busca de algo que pudesse ser pegadas de dinossauro fossilizadas? Foi essa a motivação do professor Dr. Giuseppe Leonardi para chegar a Sousa, município pólo da bacia sedimentar do rio do Peixe, em 1975. Ele veio tomar ciência “in loco” de registros feitos e publicados no livro “Serras e Montanhas do Nordeste” em 1924, de autoria do engenheiro de minas Luciano Jacques de Moraes (1896-1968). As pegadas foram descobertas por acaso por um fazendeiro da região, o qual informou o engenheiro que estava em Sousa, pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), onde trabalhava.
Pesquisador curioso, Giuseppe Leonardi, obteve uma bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e veio para a Paraíba. “Encontrei as pegadas mencionadas no livro e muitas outras”, relatou. Durante o I Congresso Internacional de Paleontologia da Paraíba ele recebeu homenagens pelos serviços prestados à ciência paleontológica, bem como seus colegas e amigos que o acompanharam neste trabalho:
Robson Araújo (in memoriam), o “Guardião do Vale”, que dedicou a vida a proteger e divulgar o patrimônio paleontológico de Sousa; Luiz Carlos da Silva, que continua a explorar e catalogar novas descobertas, contribuindo para o avanço da pesquisa na região; e o professor Ismar de Souza Carvalho, da UFRJ. Os homenageados receberam placas de reconhecimento das mãos de autoridades e pesquisadores locais, simbolizando a gratidão e o respeito pelos serviços prestados ao Vale dos Dinossauros.
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Fonte: Secties-PB
Foto: Mateus de Medeiros