Universidades e institutos de pesquisa têm de voltar a atrair os jovens, diz presidente da FAPESP
As universidades e instituições de pesquisa brasileiras têm pela frente um grande desafio: voltar a atrair os jovens para os cursos de graduação e pós-graduação, engajá-los novamente com as atividades de pesquisa e oferecer oportunidades de fazer ciência no Brasil.
“A demanda por projetos da FAPESP caiu 30%. A graduação tem menos candidatos – na engenharia essa queda foi de mais de 30% – e o número de graduados ficou 11% menor em todas as áreas, com exceção da saúde. E a pós-graduação está diminuindo. Temos um problema que precisamos resolver. As universidades têm de reformular sua relação com os jovens”, afirmou o presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, transmitido na segunda-feira (19/06).
Apresentado por Vera Magalhães, o programa contou com a participação dos jornalistas Aldo Quiroga (TV Cultura), Fabiana Cambricoli (Estadão), Rafael Garcia (O Globo), Sabine Righetti (Agência Bori) e Salvador Nogueira (Folha de S. Paulo). Os desenhos foram do cartunista Eduardo Baptistão.
Esse cenário, que se supunha passageiro, decorrente da pandemia, se mantém inalterado. E isso num momento em que o Brasil precisa se tornar competitivo em relação ao resto do mundo, até para conter a evasão de cérebros. “Precisamos criar condições para que esses jovens saibam que, aqui, eles terão futuro”, sublinhou o presidente da Fundação. “E isso certamente não ocorrerá com políticas como a de contingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico [FNDCT]”, disse, comparando os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de instituições brasileiras de fomento com os do National Institutes of Health (NIH) ou da National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos. “Não podemos perder talentos”, acrescentou.
Zago apontou iniciativas de sucesso, como as cotas de inclusão social e racial que mudaram as universidades, mas que criaram custos maiores. A FAPESP criou recentemente um programa de bolsas de iniciação científica para os alunos de graduação que ingressaram na universidade pelo sistema de cotas, que inclui orientação de pesquisadores vinculados a grandes projetos da Fundação, como Temáticos e Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs), entre outros. “Devemos ter 800 estudantes com essa modalidade de bolsas”, afirmou. Mas reforçou: “É preciso criar programas em parceria com o governo federal e estadual para apoiar esses jovens”.
Os sinais de alerta também vêm da educação básica: alto índice de evasão, baixo índice de aproveitamento, discrepância na aprendizagem etc. “Como agência de fomento, temos pouca possibilidade de intervir, mas criamos um programa de pesquisa voltado à educação básica, o PROEDUCA, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, que conta com a participação de professores e que busca solução para esses problemas”, contou.
Zago sublinhou que a FAPESP – a primeira Fundação Estadual de Amparo à Pesquisa criada no país há 60 anos – tem, historicamente, uma vantagem em relação à maioria das FAPs: o compromisso dos governos do Estado de cumprir exigências constitucionais de repasse da arrecadação para apoiar a pesquisa científica e tecnológica. “Não existe outro orçamento como o de São Paulo. Mas devemos fortalecer os sistemas estaduais, descentralizar. Precisaríamos ter um fundo não contingenciado, dividido entre os diferentes entes e exigir dos governos estaduais que invistam em pesquisa. Mas não só os governos: as empresas têm de fazer pesquisa e desenvolvimento e isso deveria ser facilitado.”
Apesar da posição de destaque de São Paulo no cenário nacional de ciência e tecnologia, Zago não acredita que isso possa resultar em “centralização” da demanda por financiamento da pesquisa. “Não é um problema mapeado. Não tivemos aumento de demanda, apesar da redução federal. É importante que haja outros polos de pesquisa”, disse, lembrando o exemplo da Iniciativa Amazônia +10, que começou por São Paulo e que hoje é executada pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), envolvendo pesquisadores de 27 agências estaduais de fomento para a realização de pesquisas na região. Rejeitando a ideia de “colonialismo científico”, retrucou: “A Amazônia é tema de interesse nacional. O protagonismo da FAPESP vai no vácuo de outros interesses. Fazemos projetos na região há mais de 20 anos”, afirmou, lembrando que a iniciativa prevê que os projetos tenham a participação de pesquisadores de três estados brasileiros, sendo um deles vinculado às FAPs da região amazônica.
Na entrevista, Zago falou ainda sobre investimentos da FAPESP em startups, parcerias com empresas para projetos em colaboração, pesquisas em inteligência artificial, entre outros assuntos.
A íntegra do programa está disponível em: www.youtube.com/watch?v=wE7Wlarp6l8&t=2s.
Fonte: Agência Fapesp