Pesquisadores da Paraíba e de SP estudam bactéria causadora de infecções em recém-nascidos
Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade de São Paulo (USP) analisam uma bactéria que causa infecções em humanos e em animais de criação e é considerada uma das principais causas de infecções graves em recém-nascidos. As amostras obtidas em pacientes atendidos no Hospital Universitário Lauro Wanderley, da UFPB, e de leite cru de vacas na Paraíba, na cidade de Areia, são estudadas com o apoio do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior, através da chamada conjunta entre a Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq-PB) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O projeto “Prospecção do impacto da diversidade genética de estreptococos B nas estratégias de controle de doenças no estado da Paraíba através de uma abordagem fundamentada em One Health” foi aprovado na chamada conjunta Fapesq-PB/ Fapesp e é coordenado por Vinícius Pietta Perez, do Departamento de Fisiologia e Patologia da UFPB, e Ilana Lopes Baratella da Cunha Camargo, da USP.
A bactéria Streptococcus agalactiae (também conhecida como estreptococo do grupo B) está intimamente relacionada, em humanos, ao período perinatal, causando infecções em gestantes e puérperas e infecções graves em bebês até os 2 meses de idade. No gado, é causadora de mastite infecciosa, ou seja: inflamações do tecido mamário. Ela pode afetar rebanhos leiteiros, causando prejuízos aos animais e perdas produtivas importantes.
De acordo com a pesquisa, não há programas de controle e erradicação da mastite bovina no Brasil, resultando em uso excessivo e descontrolado de antibióticos na criação. Por isso, também está em estudo o uso excessivo de antibióticos para o combate à bactéria, tanto no gado quanto em humanos.
Estudo envolve investigação genética
Segundo a Organização Mundial da Saúde, One Health é uma abordagem integrada e unificadora que tem como objetivo melhorar de forma sustentável a saúde de pessoas, animais e ecossistemas. A OMS reconhece que a saúde de seres humanos, animais domésticos e selvagens, plantas e o meio ambiente (incluindo ecossistemas) estão intimamente ligados e interdependentes. A colaboração entre setores e disciplinas contribui para proteger a saúde e lidar com desafios na área, como o surgimento de doenças infecciosas, resistência antimicrobiana, segurança alimentar, além de promover a saúde e a integridade de nossos ecossistemas.
As coletas de leite para a pesquisa são realizadas por pesquisadores do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFPB, em Areia. Essas bactérias são caracterizadas por meio de técnicas genéticas para descobrir a distribuição de sorotipos e genótipos (a constituição genética) na Paraíba, além de investigar a sensibilidade aos antibióticos utilizados na profilaxia (as medidas utilizadas para prevenir e atenuar doenças) intraparto e no tratamento dos processos infecciosos.
As análises são realizadas no campus I da UFPB em João Pessoa, e as etapas de genotipagem e sequenciamento de genomas são realizadas no campus da USP na cidade paulista de São Carlos. O objetivo é determinar a diversidade genética e a resistência aos antibióticos, a fim de investigar as relações genéticas da microbiota (a variedade de bactérias, vírus e outros microrganismos que habitam nosso organismo) e avaliar o impacto dessas relações nas estratégias de profilaxia e na iminente introdução das vacinas capsulares.
Exposição elevada aos antibióticos gera bactéria resistente
Até o momento, foi possível observar na pesquisa a ausência de resistência aos antibióticos de primeira linha para a profilaxia intraparto. No entanto, foi identificada uma importante resistência da bactéria a outras classes de antibióticos. “É relevante monitorar essa situação, uma vez que a exposição elevada aos antibióticos é um fator determinante para a emergência de resistência”, alertou o coordenador da pesquisa, Vinicius Perez.
Outro ponto relevante são as vacinas em desenvolvimento direcionadas para os sorotipos capsulares. “Com base em nossos resultados, observamos que as formulações atuais das vacinas em estudo têm cobertura para 94% dos sorotipos observados na população”, afirma o pesquisador. “Além disso, até o momento, selecionamos 11 amostras de bactérias da microbiota humana para sequenciamento completo do genoma.
As análises permitiram observar uma ampla distribuição de genes relacionados à virulência”. A próxima etapa do estudo consistirá no sequenciamento de amostras bovinas para realizar uma análise comparativa e evolutiva, em relação as amostras da microbiota humana.
O projeto já resultou em alguns trabalhos parciais apresentados: uma apresentação na quinta edição do International Caparica Conference in Antibiotic Resistance (conferência internacional de Caparica sobre resistência a antibióticos), em Portugal, e apresentações no 8º Simpósio Internacional de Microbiologia Clínica, em São Paulo, ambos em 2022.
A equipe da pesquisa é formada pela professora Eloiza Helena Campana e professor Lauro Santos Filho (ambos do Departamento de Ciências Farmacêuticas da UFPB); professor Celso Jose Bruno de Oliveira e professor Artur Cezar de Carvalho Fernandes (os dois do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, PPGCAN, da UFPB); Jorhanna Isabelle Araujo de Brito Gomes e Suellen Bernardo de Queiroz (graduandas em Biomedicina na UFPB); Camila Maria do Santos Boralli (doutoranda na USP); e Letícia Zenatti (mestranda na USP).
O projeto foi aprovado na chamada Fapesq-PB/ Fapesp de 2019, que somou um investimento total de R$ 4 milhões (R$ 2 milhões do Governo da Paraíba, via Fapesq-PB, e R$ 2 milhões por São Paulo, via Fapesp). Dez projetos foram aprovados nesse edital. Para o estudo aprovado por Vinícius Perez, a fundação paraibana repassou R$ 166.111,42. Outros 11 projetos foram aprovados no ano passado em nova chamada conjunta das duas fundações.
Fonte: Fapesq