Paraibana é laureada com o Prêmio Jovem Pesquisador
que impulsiona as florações de Raphidiopsis raciborskii e as concentrações de saxitoxinas em reservatórios do semiárido tropical? Esse foi o tema do trabalho que rendeu à estudante de doutorado da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Ranielle Daiana dos Santos Silva, o 1º lugar no Prêmio Jovem Pesquisador no XXV Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos e 1º Forum Latinoamericano da Água, realizados em Aracaju (SE), de 19 a 24 de novembro.
Ranielle é doutoranda do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD RIPA – PPGEC/UEPB/Fapesq). O programa conta com apoio do Governo da Paraíba, por meio de edital da Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) e Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq). As duas ganhadoras do prêmio são mulheres, a segunda colocada foi Thais Fujita (USP).
“Para mim foi uma grande satisfação ter nosso trabalho reconhecido em um evento nacional direcionado a recursos hídricos, principalmente por poder levar os resultados da nossa pesquisa a um público diverso, e poder transmitir a mensagem da necessidade do manejo adequado dos nossos corpos hídricos, para assim poder garantir segurança hídrica evitando os riscos de intoxicação às populações mais vulneráveis que não têm acesso à água potável”, disse Ranielle.
O trabalho apresentado foi desenvolvido com aspecto em ecologia de populações (com cunho aplicado) e abordou desde planejamento e gestão, até proteção de mananciais e riscos de intoxicação as cianotoxinas em caso de consumo da água não tratada. O estudo faz parte da tese de doutorado de Ranielle, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, inserido no Projeto Rio Paraíba Integrado (PELD/RIPA), financiado pela Fapesq/UEPB/CNPq.
O estudo avaliou os fatores ambientais que intensificam a biomassa da cianobactéria Raphidiopsis raciborskii e sua relação com os níveis de saxitoxinas, bem como os riscos de intoxicação por esta cianotoxina em reservatórios do semiárido tropical. Os resultados do trabalho mostraram que a biomassa da espécie e os níveis de saxitoxinas estiveram relacionados, sendo o fósforo principal promotor da biomassa da espécie, e consequentemente, de forma indireta com as saxitoxinas.
Ao avaliar os riscos de exposição à saúde humana, considerando o consumo de água não tratada por um adulto, foi observado que os reservatórios do Estado da Paraíba apresentaram riscos de exposição as saxitoxinas baixos a moderados, no entanto, baixas concentrações da toxina em mais de 90% das amostras alertam sobre os riscos de exposição crônica.
Por fim, o estudo ressaltou a necessidade do controle do aporte de fósforo como estratégia de mitigar a expansão das florações de R. raciborskii, e minimizar os riscos de intoxicação por saxitoxinas em ambientes do semiárido tropical. A R. raciborskii é uma espécie de cianobactéria de grande relevância devido à magnitude de suas florações, distribuição geográfica e seu potencial nocivo (produção de cianotoxinas).
Pesquisa levanta a preocupação com intoxicação nos mananciais em cenários futuros
Segundo a pesquisa de Ranielle, a intensificação das florações de Raphidiopsis raciborskii tem elevado as concentrações de saxitoxinas levantado preocupações quanto a intoxicação em cenários futuros. De acordo com a doutoranda, o estudo avaliou se os fatores ambientais que promovem as florações de R. raciborskii também promovem as saxitoxinas em reservatórios da região semiárida tropical, e identificou a relação entre a neurotoxina e a biomassa de R. raciborskii.
A amostragem ocorreu em um único ponto, próximo a captação de água em 37 reservatórios localizados no estado da Paraíba, durante os meses de novembro de 2021 e março e junho de 2022. Foram avaliados os efeitos das variáveis ambientais (temperatura da água, volume hídrico, turbidez, níveis de salinidade e pH) sobre a biomassa de R. raciborskiie nas concentrações de saxitoxinas por meio de um modelo de Equações estruturais.
“Nossos resultados reforçam que condições eutróficas podem favorecer a expansão desta cianobactéria, e, portanto, reforçam a necessidade de controle do aporte de nutrientes, especialmente do fósforo como estratégia de mitigação das florações de R. raciborskii.
“Para nós é uma grata satisfação ver um trabalho de ecologia de populações (com cunho aplicado) reconhecido numa área tão clássica e dura como a engenharia e os Recursos Hídricos”, observou José Etham de Lucena Barbosa, coordenador do projeto Rio Paraíba Integrado, professor da UEPB, e coordenador do Laboratório de Ecologia Aquática (LEAq). “Obrigado ao PELD/CNPq/Fapesq por oportunizar esse momento”.
Rio Paraíba Integrado
Dois projetos de pesquisadores da Paraíba foram aprovados em 2021 no Programa Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD), um projeto do governo federal (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, CNPq e Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa) que apoia pesquisas científicas que necessitam de um período longo de coleta de dados e análises para entender o funcionamento dos ecossistemas.
O edital “PELD” foi lançado pela primeira vez em 1999 e propõe a formação de sítios de pesquisas em diferentes biomas brasileiros, locais delimitados que serão investigados durante quatro anos, tempo da duração do programa. A cada quatro anos o edital é relançado com a chance de manter a pesquisa em sítios antigos e abrir espaço para novas localidades.
Uma das propostas aprovadas na Paraíba é da área de comunicação pública da ciência: “Estratégia Multidimensional de Comunicação Pública para o Programa PELD”, coordenada por Alessandra Gomes Brandão, professora da UEPB. O projeto de comunicação irá reunir e disseminar informações sobre todos os sítios PELDs do Brasil. Atualmente, existem 34 sítios vigentes nas cinco regiões do Brasil e na costa marinha brasileira, que são apoiados pelo PELD. Esse número poderá alterar a partir do edital deste ano.
Além da plataforma digital onde as diversas ações de comunicação serão integradas, a proposta apresenta uma plataforma que fará o acompanhamento das ações dos sítios PELD de acordo com as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis. O Peld possui um orçamento no valor global de R$ 15 milhões sendo R$ 14 milhões oriundos do orçamento do CNPq e R$ 1 milhão oriundo do orçamento do MCTI. O projeto Rio Paraíba Integrado foi contemplado com recursos de aproximadamente R$ 200 mil, para ser executado em quatro anos.
O projeto propõe estudos relacionados à bacia do Rio Paraíba, visando o recebimento das águas do Rio São Francisco, as mudanças climáticas e a integração de pesquisas com foco na sustentabilidade socioambiental e econômica.
Fonte: FAPESQ PB