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Livro aborda os impactos e propõe métodos de avaliação decorrentes da interação entre academia e indústria - Consecti

Livro aborda os impactos e propõe métodos de avaliação decorrentes da interação entre academia e indústria - Consecti

Giro nos estados
02 agosto 2022

Livro aborda os impactos e propõe métodos de avaliação decorrentes da interação entre academia e indústria

A pandemia do novo coronavírus colocou em evidência a importância da pesquisa para o desenvolvimento de testes, vacinas e medicamentos. Também não deixou dúvida quanto a contribuição das instituições de ciência, tecnologia e inovação para a sociedade no enfrentamento da Covid-19. Mais que uma formadora de recursos humanos, a universidade mostrou sua agilidade ao compartilhar seu conhecimento com empresas. Usualmente, o resultado da pesquisa para a sociedade é mensurado a partir do número e do impacto gerado por artigos publicados em periódicos científicos indexados. Entretanto, é igualmente ou mais importante auferir o impacto de outras áreas das instituições, como a de Inovação, por exemplo.

Em uma iniciativa pioneira, o recém-lançado livro Interação Academia-Indústria: Métodos de Avaliação e caso de estudo na área Biomédica (Editora e-papers) procura justamente estabelecer métricas para mensurar as parcerias estabelecidas entre as universidades e institutos de pesquisa com empresas. Se por um lado a academia se beneficia com os testes e validações de hipóteses, por outro, as empresas se beneficiam das novas descobertas e do know-how dos pesquisadores, pontua o estudo. Organizado pelos professores Daniela Uziel e Diego Allonso, coordenadora e vice coordenador de Inovação do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CCS/UFRJ), respectivamente, o conteúdo da obra elegeu a área Biomédica da UFRJ para servir de modelo de avaliação da parceria entre academia e indústria. “A ideia é criar métricas que sirvam para outras instituições e que possam avaliar diferentes áreas”, explica Daniela Uziel.

Pesquisadores, professores e alunos da UFRJ publicam uma média de 10 mil artigos científicos por ano, muitos deles relacionados a pesquisas inovadoras com potencial de chegarem ao mercado como produto ou tecnologia passível de proteção intelectual. A fim de provocar na comunidade acadêmica o desejo de inovar, a Universidade criou, em 2019, o ‘InovaCCS’, uma interação articulada e integrada entre a Coordenação de Inovação do CCS e a Agência UFRJ de Inovação. Maior Centro da UFRJ, o CCS congrega 27 unidades e/ou órgãos suplementares, incluindo o complexo hospitalar. “Coletamos dados e adaptamos métricas para tornar público o que é desenvolvido no CCS, além da métrica já consolidada na Pesquisa (produção de artigos), Ensino (oferecimento de disciplinas) e Extensão (projetos que envolvam a sociedade)”, dizem os organizadores.

O livro, que contou com recursos do Programa de Apoio à Editoração, da FAPERJ, é composto de quatro capítulos, além de introdução e considerações finais. Inicia traçando o cenário de inovação e interação academia-indústria no País; depois descreve o ambiente da Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil; em seguida apresenta a proposta de métricas para avaliação da interação academia-indústria; e no capítulo seguinte demonstra a aplicação das métricas no estudo piloto na área biomédica da UFRJ. Entre as métricas adotadas estão os joint labs (laboratórios compartilhados pela universidade com empresas), as startups e spinoffs (modelo de negócio e lançamento de um produto ou serviço), patentes e licenciamentos, contratos, mobilidade de pesquisadores, entre outros tópicos.

O livro demonstra a aplicação das métricas no estudo piloto na área biomédica da UFRJ (Foto: Reprodução)

Utilizando como referência e adaptando à realidade brasileira diversas publicações que coletam e disponibilizam dados sobre a inovação em empresas, os autores partiram para a mensuração desses dados. Para estabelecer as métricas foi necessário considerar parâmetros firmados pelo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, de 2016; dados da Organização para o Crescimento e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e informações da Embrapii (Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), que funciona como uma mediadora entre as instituições de pesquisa tecnológica visando a inovação e a indústria brasileira, entre outras.

No caso das patentes e licenciamentos, por exemplo, são avaliados o número de pedidos de patentes, quantidade de patentes concedidas e a taxa de sucesso dos pedidos, o total de licenciamentos e o retorno financeiro esperado, o número de produtos criados e a soma dos relacionamentos entre universidade e empresas decorrentes das patentes e licenciamentos. “Considerar apenas o número de patentes depositadas não reflete a realidade, pois nem todas são concedidas ou mesmo licenciadas”, alega Daniela em relação os índices globais de inovação, que consideram apenas os depósitos de patentes. Em relação às spinoffs, para se chegar a um resultado ainda mais fiel, uma nova metodologia que ainda não consta do livro, mas já está sendo desenvolvida pela equipe de pesquisa, fará o cruzamento dos CNPJs criados e os CPFs que compõem cada empresa. “O impacto gerado pela pesquisa e inovação na sociedade é muito maior do que parece”, afirma a pesquisadora.

Como professora, Daniela transfere para seus alunos sua inquietação pessoal. Ela não se vale do quadro negro, giz ou apostilas em suas aulas, mas propõe desafios que as equipes de alunos precisam resolver com o melhor desempenho possível.  Encenações de filmes, criação de redes de conhecimento para atingir objetivos, valorização de um objeto a fim de trocá-lo por outro de valor muito superior são alguns dos desafios impostos pela professora nas aulas de Disciplinas Integradas de Empreendedorismo. Como o nome indica, os grupos multidisciplinares que compõem essas disciplinas agregam alunos e docentes de diferentes áreas, tanto de ciências humanas quanto exatas, criando o ambiente propício para o crescimento. Lidar com frustrações, descobrir suas fraquezas e habilidades, trabalhar em cooperação e identificar lideranças são alguns dos resultados alcançados.

Entre os casos de sucesso de inovação na incubadora, Daniela cita o empreendedor Felipe Castro de Oliveira de Brito Teixeira, que criou a Grisea Biotecnologia. Contemplado com bolsa do edital Doutor Empreendedor: Transformando conhecimento em Inovação, da FAPERJ, que desenvolveu um tipo de bioplástico biodegradável e solúvel a partir de algas marinhas. O objetivo do projeto é reduzir o impacto do plástico tradicional no meio ambiente utilizando uma matéria prima que não serve como alimento, ao contrário do milho, mandioca e outros materiais utilizados para a produção de bioplásticos. Outro exemplo citado por Daniela é a criadora da RioGen, Maria Beatriz Mota, mestre e doutora em bioquímica pelo Instituto de Química da UFRJ, que vem se valendo da bioinformática e biologia molecular para o desenvolvimento de diagnósticos não invasivos do aparelho urogenital.

Daniela Uziel: Considerar apenas o número de patentes depositadas não reflete a realidade

Graduada em Medicina pela UFRJ em 1995, com mestrado e doutorado em Ciências Biológicas (Biofísica) também pela UFRJ, incluindo um período ‘sanduíche’ na França e na Alemanha, Daniela explorou novas oportunidades ao concluir um recente doutorado em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento no Instituto de Economia da UFRJ (2019). Foi neste ano que passou a coordenar a área de Inovação do CCS e, em seguida, integrar o Comitê de Inovação e coordenar o Programa de Gestão de Indicadores de Desempenho (GID) da Pro-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ. Atuando em parceria com docentes de outras áreas do conhecimento da UFRJ e da UFF nas Disciplinas Integradas de Empreendedorismo, recebeu o prêmio de educação empreendedora (rodada estadual) do Sebrae em 2019.

Como colaboradora informal da FAPERJ, a pesquisadora destaca a contribuição dos editais e programas vinculados à Diretoria de Tecnologia da Fundação para o desenvolvimento da Inovação no estado do Rio de Janeiro, como os programas Doutor Empreendedor- Transformando Conhecimento em Inovação; Inserção de Pesquisadores nas Empresas; e Apoio à Inovação Tecnológica, entre outros.

Fonte: Faperj