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Acervo do Jardim Botânico conta a história da ciência e das técnicas fotográficas do século XIX - Consecti

Acervo do Jardim Botânico conta a história da ciência e das técnicas fotográficas do século XIX - Consecti

Giro nos estados
15 março 2023

Acervo do Jardim Botânico conta a história da ciência e das técnicas fotográficas do século XIX

Em meio aos 20 mil itens do acervo fotográfico do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que está passando por um processo de revitalização, pesquisadores encontraram várias preciosidades. Fotos da vegetação nativa do bairro de Laranjeiras, a configuração do bairro do Leblon em 1925 e registros de cientistas estrangeiros que estiveram no País entre as décadas de 1920 e 1940 estão entre os achados, que testemunham diferentes fases das pesquisas botânicas no País e da história do Jardim Botânico.

O acervo, há muitos anos exposto à umidade característica do Jardim Botânico, está sendo ordenado, organizado e higienizado para receber acondicionamento adequado no Galpão do Acervo e Memória, que foi inaugurado em 2020 e em 2023 vai ganhar um novo sistema de ar condicionado, criando as condições ideais para a guarda do acervo institucional do JBRJ. Cerca de oito mil fotos em papel já foram higienizadas e adequadamente guardadas.

Na opinião do chefe da Divisão de Museu e Acervo do JBRJ, Raul Ribeiro, as maiores preciosidades são os negativos rígidos em placas de vidro, que contêm imagens resultantes de expedições científicas, do arboreto e de funcionários do JBRJ realizadas entre os anos de 1900 e 1960, que contam não só um pouco da história da ciência e do próprio Jardim Botânico, como das técnicas fotográficas adotadas desde o fim do século XIX. Uma das curiosidades reveladas por essas raridades são as fotos das áreas de alagamento do arboreto e as reproduções das exsicatas, que são amostras de plantas prensadas e secas coladas em cartolinas.

“Os negativos de vidro estão em muito bom estado de conservação, pois desde os anos de 1990, quando foi dado início ao processo de conservação do acervo, as técnicas utilizadas foram decisivas para a conservação do material”, explica Raul. Segundo ele, nos anos 2000, quando já estava disponível o processo de digitalização, a Funarte, através do Centro de Conservação e Preservação (CCPF) acertadamente optou pelo processo de inversão química para duplicar os 3.555 negativos de vidro em negativos flexíveis. Esse material reúne fotos de diretores do JBRJ, as fases do arboreto e, principalmente, as expedições nacionais e estrangeiras. Já em 2012, todo o acervo foi digitalizado, ano em que o acervo também foi aberto ao público em geral. “Esse novo processo de conservação, iniciado em 2022, terá reserva técnica adequada e vem coroar a iniciativa tomada em 1990”, comemora o pesquisador.

Raul Ribeiro: para o responsável pela Divisão de Museu e Acervo do Jardim Botânico do Rio, novo processo de conservação, iniciado em 2022, terá reserva técnica adequada e vem coroar a iniciativa tomada nos anos 1990

Diante do fim do contrato e do reajuste abusivo de preço da empresa fornecedora do software utilizado como repositório do acervo, o JBRJ decidiu adotar e adaptar o software nacional e livre Tainacan, que não tem custo de instalação ou atualização, podendo ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribuído sem nenhuma restrição. “O acervo está passando por uma verdadeira revolução e devemos muito aos recursos destinados ao projeto pela FAPERJ”, afirma Ribeiro, que está terminando seu mestrado com foco justamente no acervo fotográfico do JBRJ.

A FAPERJ apoia o projeto por meio do programa de Apoio à Atualização e Manutenção de Acervos nas Instituições de Ensino Superior e Pesquisa sediadas no Estado do Rio de Janeiro, com a destinação de R$ 120 mil.  Segundo o coordenador do projeto, o biólogo Renato Crespo Pereira, mestre em Botânica e doutor em Química de Produtos Naturais, os recursos concedidos pela Fundação deram um estímulo à instituição no caminho da recuperação do acervo. Mas, em sua opinião, o maior ganho na realização desse projeto é a reafirmação da imagem do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro como uma instituição de pesquisa que abre suas portas à visitação.

“Por trás de cada planta, cada placa de identificação tem cientificidade. E este projeto de revitalização conta uma história, revela a colaboração do Jardim Botânico para o desenvolvimento da ciência ao longo de seus mais de 200 anos de existência”, alega Crespo, que é Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ.

Marcia Mello: conservadora de fotografia integra a equipe encarregada de revitalização do acervo do Jardim Botânico do Rio (Foto: Federico Rossi)

Entre o material produzido pelas expedições estrangeiras estão a Expedição Belga, liderada pelo botânico Jean Massart rumo à Amazônia, que em 2022 completou 100 anos e foi objeto de exposição no Jardim Botânico. Realizada entre os anos de 1922 e 1923, a missão belga é considerada por pesquisadores e professores europeus uma contribuição para o estudo da biogeografia do Brasil. Com o objetivo de aprofundar o estudo sobre a fauna e a flora do país, a expedição contou com o suporte dos pesquisadores do JBRJ e passou pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará, Pará e Amazonas.

Segundo Crespo, além das fotografias, as expedições geraram rico material depositado no herbário do JBRJ, que remontam a locais já extintos, como algumas restingas da Barra da Tijuca, por exemplo.

Em 2022, a Portaria JBRJ nº 4 de 18 de fevereiro instituiu o Programa Ecomuseu do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Alinhado ao Museu do Meio Ambiente, a iniciativa também visa promover o diálogo entre os diversos campos da cultura e setores das ciências, com o objetivo de sensibilizar os indivíduos para a preservação do meio ambiente em um sentido amplo. O Programa reunirá e organizará o acervo próprio da instituição a partir de sete núcleos conceituais: Sítios Arqueológicos, Coleções Vivas, Conjuntos Paisagísticos, Monumentos, Obras de artes, Pesquisa e Ensino.

Fonte: FAPERJ