Maioria da população não tem conectividade significativa, aponta CGI.br
Estudo do Cetic.Br (vinculado ao CGI.br) sobre conectividade significativa mostra que apesar do alto índice de uso de Internet entre brasileiros, mais da metade da população nacional (ou 57%) ainda está em situação distante da conectividade significativa.
A pesquisa (confira a apresentação dos dados aqui) se baseou em nove indicadores que refletem acessibilidade financeira, acesso a equipamentos, qualidade da conexão e ambiente de uso. São eles:
- custo da conexão domiciliar
- plano de celular
- dispositivos per capita
- computador no domicílio
- uso diversificado de dispositivos
- tipo de conexão domiciliar
- velocidade da conexão domiciliar
- frequência de uso da Internet
- locais de uso diversificados.
A partir da soma das nove variáveis selecionadas, os pesquisadores do Cetic.br estabeleceram diferentes níveis de conectividade significativa, o que resultou numa escala de 0 a 9 para cada pessoa presente na amostra – na qual o score zero indica ausência de todas as características aferidas, enquanto o nove denota a presença de todas elas.
Dessa forma, 33% da amostra brasileira ficou na categoria com menor nível de conectividade significativa (0 a 2 pontos), com outros 24% marcando 3 a 4 pontos – juntos, os grupos totalizam 57% da população.
A situação é um pouco melhor entre 20% que tiveram notas entre 5 e 6 pontos, enquanto apenas 22% dos brasileiros teriam conectividade significativa nos níveis mais altos (pontuação de 7 a 9).
Segundo Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br, a complexidade do cenário atual, marcado por rápidos avanços tecnológicos, tem exigido um alargamento da compreensão sobre inclusão digital. “Considerar o nível de conectividade de um País pela quantidade de usuários de Internet entre seus habitantes não é mais suficiente. Os debates mais recentes no Brasil e no exterior sobre a questão enfatizam a necessidade de pensar na conectividade de maneira abrangente”, destacou Barbosa.
Em paralelo, o estudo também revelou que os indicadores de acessibilidade financeira apresentaram o pior desempenho, seguidos pelos de acesso a equipamentos e de qualidade da conexão.
Melhoria
Mas os números atuais, quando se observa a série histórica da pesquisa TIC Domicílio, apontam para uma melhora gradativa. A análise retrospectiva dos níveis de conectividade significativa identificou uma redução na disparidade entre os grupos que ocupam os extremos da escala. Em 2017, 48% da população tinham score entre 0 e 2 e apenas 10% estavam na faixa de 7 a 9 pontos – uma distância de 38 pontos percentuais. Em 2019, a diferença entre eles recuou para 29 p.p.; em 2021, para 22 p.p.; e, em 2023, para 11 p.p.
“Esse quadro sugere uma tendência positiva, mas ainda que tenha sido detectada uma melhora progressiva, é preciso celeridade para reduzir as disparidades de conectividade no Brasil, que são reflexo direto das desigualdades que marcam a estrutura social do País”, alerta Graziela Castello, coordenadora de estudos setoriais no Cetic.br e responsável pelo levantamento.
Disparidades regionais
O estudo também mostra que as regiões Norte e o Nordeste têm as piores condições de conectividade significativa, com apenas 11% e 10% da população, respectivamente, na faixa entre 7 e 9 pontos, e 44% e 48%, na mesma ordem, ocupando o outro extremo da escala, de até 2 pontos.
Em contrapartida, Sul, com 27%, e Sudeste, com 31%, registraram os melhores índices, sendo as únicas regiões no País em que a quantidade de habitantes na maior faixa é superior do que aquela na pior faixa.
A área e o porte do município de residência também demonstram forte associação com o nível de conectividade significativa, explica a pesquisa. Quanto maior a cidade, melhor o desempenho. Naquelas com até 50 mil habitantes, 44% da população encontra-se na pior faixa da escala. Nas com mais de 500 mil habitantes, por sua vez, a proporção negativa cai quase pela metade, com 24%. Em relação à área, enquanto 30% dos habitantes das localidades urbanas estão no grupo de pior faixa, até 2 pontos, 54% da população em zonas rurais encontra-se nessa condição.
Brancos na frente
Essa desigualdade também fica evidente na análise dos dados com base na autodeclaração de cor ou raça dos respondentes. Entre os brancos, 32% estão na faixa mais alta, score entre 7 e 9. Já entre pretos e pardos, a porcentagem cai para 18%.
A proporção de pessoas com melhor conectividade significativa também é consideravelmente maior entre os entrevistados do sexo masculino, com 28%, na comparação com as do sexo feminino, 17%, mostrando 11 p.p. de diferença.
A pesquisa identificou ainda que, quanto maior o grau de escolaridade, menor a proporção de brasileiros com score entre 0 e 2 e maior a proporção daqueles na faixa entre 7 e 9. Entre os que possuem até o Ensino Fundamental I, a maioria, 68%, está na pior faixa de pontuação, e apenas 3%, na melhor. O quadro se inverte entre os com Ensino Superior: apenas 7% obtiveram a pior pontuação, enquanto 59% ficaram com os maiores scores.
Grande distância também se revela na comparação entre estratos sociais. Na classe A, a grande maioria, 83%, está na melhor faixa de pontuação e apenas 1%, na pior. Por outro lado, entre as pessoas nas Classes DE, a realidade é totalmente distinta: apenas 1% delas está na melhor faixa e a maioria, 64%, na pior.
Idosos excluídos
No recorte de faixa etária, o levantamento confirma a maior vulnerabilidade à exclusão digital dos idosos: 61% dos brasileiros com 60 anos ou mais apresentam scores mais baixos, com até 2 pontos de conectividade significativa, proporção muito acima da verificada no País de maneira geral, que está em 33%.
E, diferentemente do que sugere o senso comum, os dados desmentem a ideia de que os mais jovens apresentariam melhores indicadores no mesmo quesito. O estudo revela que somente 16% e 24% daqueles com idades entre 10 e 15 anos e 16 e 24 anos, respectivamente, estão na faixa mais alta, entre 7 e 9 pontos. Os níveis mais elevados ocorrem justamente entre os grupos etários de maior incidência no mercado de trabalho, que estão na faixa entre 25 e 44 anos.
“O estudo questiona a ideia de que os gargalos para inclusão digital seriam sanados por uma possível transição geracional, uma vez que os jovens já seriam super conectados. Quando olhamos para os usuários de Internet de maneira geral, isso se confirma, mas ao complexificarmos a análise e entendermos a conectividade como um todo, fica claro que uma parcela importante desse grupo possui condições precárias de conectividade e vai ingressar no mercado de trabalho com uma desvantagem grande. A realidade de um jovem que mora na periferia e não tem qualidade de conexão é muito distinta da de um jovem da mesma idade que tem melhores condições. Essas diferenças potencializam desigualdades já existentes”, alerta Graziela Castello.
Fonte: Teletime