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Coordenador adjunto da FAPESP toma posse como secretário-executivo do Global Research Council - Consecti

Coordenador adjunto da FAPESP toma posse como secretário-executivo do Global Research Council - Consecti

Giro nos estados
29 setembro 2022

Coordenador adjunto da FAPESP toma posse como secretário-executivo do Global Research Council

O engenheiro Euclides de Mesquita Neto, membro da Coordenação Adjunta para Programas Especiais e Colaborações em Pesquisa da FAPESP, assumiu no início de setembro o Secretariado Executivo do Global Research Council (GRC), entidade que reúne mais de 60 agências de fomento público à pesquisa de todos os continentes.

O Secretariado Executivo é uma das três instâncias da estrutura de governança do GRC, ao lado do Governing Board (Conselho de Administração) e do Executive Support Group (Grupo de Apoio Executivo). Entre suas funções estão mediar a relação do Conselho com as entidades-membro e com o Grupo de Apoio, fomentar a articulação entre as agências das diferentes regiões do planeta e, mais recentemente, desenvolver estratégias para tornar possível uma coordenação do fomento à pesquisa em nível mundial – algo considerado necessário para enfrentar desafios globais, como a mudança climática.

Desde a criação do GRC, em 2012, essa responsabilidade já foi da National Science Foundation (NSF, dos Estados Unidos), da German Research Foundation (DFG, da Alemanha) e da United Kingdom Research and Innovation (UKRI, do Reino Unido). Esta é a primeira vez que o Secretariado Executivo ficará abrigado em um país que não integra o Norte global, o que, na avaliação de Mesquita Neto, possibilita que questões de interesse dos países em desenvolvimento sejam levadas em consideração. “Embora a mudança climática seja um problema que afeta o mundo inteiro, ela exige soluções localizadas. Há questões que são específicas da Amazônia, por exemplo”, afirma.

Mesquita Neto graduou-se em engenharia mecânica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1978. Realizou mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entre 1979 e 1981, e doutorou-se pelo Institut fuer Mechanik da Universidade de Hannover (Alemanha), em 1989. É professor titular da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM-Unicamp) desde 2004. Em 2008 passou a integrar a equipe de coordenadores da FAPESP (foi coordenador de área até 2016, quando se tornou adjunto).

Em entrevista à Agência FAPESP, o novo secretário-executivo do GRC falou sobre os planos e desafios para os próximos cinco anos.

Agência FAPESP – Por quanto tempo a FAPESP ficará responsável pelo Secretariado Executivo do GRC e como surgiu a indicação?
Euclides de Mesquita Neto – No fim do ano passado, o GRC lançou uma chamada para que as entidades-membro apresentassem propostas para abrigar o Secretariado Executivo. A FAPESP apresentou uma proposta e, em reunião realizada em março deste ano, ela foi aprovada. Até junho, quem estava à frente era Michael Bright, do UKRI. Começamos um período de transição e, no dia 8 de setembro, assumimos definitivamente todos os trabalhos. O mandato é de cinco anos.

Agência FAPESP – Qual é exatamente o papel do secretário executivo?
Mesquita Neto – O Secretariado Executivo faz a intermediação entre as duas outras estruturas de governança do GRC: o Governing Board, a instância decisória máxima e cujos membros são eleitos a cada três anos, e o Executive Support Group, um grupo de pessoas experientes que ajuda a elaborar as políticas científicas das agências de fomento. Também faz a intermediação entre todas as agências das cinco regiões em que o GRC está dividido: Oriente Médio/Norte da África, África Subsaariana, Ásia/Pacífico, Américas e Europa. Existe uma reunião anual para cada região e a coordenação desse trabalho é feita pelo secretário-executivo. Seremos responsáveis pelo acompanhamento e a implementação do vision and roadmap, um documento que contém as metas e os procedimentos a serem cumpridos nos próximos anos, segundo acordado pelos membros do GRC. Um dos objetivos desse roadmap é fortalecer as regiões. O fato de pela primeira vez o secretário-executivo vir de um país fora do eixo Norte permite levar algumas questões mais locais em consideração. Embora a mudança climática seja um problema que afeta o mundo inteiro, ela exige soluções localizadas. Há questões que são específicas da Amazônia, por exemplo. Promover a articulação dos países que formam as cinco regiões é um desafio para o Secretariado Executivo. A Europa tem uma forte tradição nesse sentido e a África subsaariana também já tem uma boa coordenação. Nas Américas isso é algo que está começando. Existem ainda, dentro do GRC, alguns grupos de trabalho sobre temas considerados prioritários, sendo os mais importantes o Gender Working Group [voltado a promover a equidade de gênero na ciência] e o Responsible Research Assessment [para aprimorar métricas dos sistemas de avaliação de projetos e discutir temas como ciência aberta]. Mas um dos maiores desafios para os próximos anos está ligado ao próprio papel do GRC.

Agência FAPESP – Como assim?
Mesquita Neto – A entidade surgiu como um fórum para que chefes de agências de fomento pudessem fazer networking e compartilhar informações e boas práticas. Agora tem amadurecido a ideia de que podemos ir além, coordenando as agências de fomento à pesquisa de todo o mundo. Os principais problemas que temos de enfrentar hoje são globais e isso requer uma coordenação global. Além da questão climática, podemos pensar em todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 proposta pelas Nações Unidas. No caso da pandemia de COVID-19, por exemplo, cada agência de fomento procurou dar uma resposta – muitas foram bem-sucedidas, outras nem tanto. Mas o fato é que a resposta foi muito descoordenada, houve redundância de esforços e, em alguns casos, instituições mais maduras poderiam ter dado suporte a outras que não tiveram sucesso em seus projetos. Ficou claro que falta uma coordenação mais efetiva.

Agência FAPESP – Seria uma coordenação relacionada à seleção de temas e articulação de expertise ou também envolveria financiamento?
Mesquita Neto – Existe um apetite no sentido de criar instrumentos para facilitar a articulação tanto entre as agências-membro do GRC quanto com órgãos externos, como o Belmont Forum ou a Organização Mundial de Saúde. O Belmont Forum tem um modelo de negócio interessante. Seu objetivo é organizar atividades de pesquisa e setores relacionados com mudanças ambientais e sustentabilidade. Uma organização desse tipo só com agências de fomento ainda não existe. Há uma proposta, que deve virar um grupo de trabalho do GRC, chamada Multilateral Funding Engagement [compromisso de financiamento multilateral]. Sob a coordenação do Secretariado Executivo, estamos discutindo que tipo de instrumentos seriam viáveis para articular o financiamento de pesquisas entre os países.

Agência FAPESP – Como tem sido a articulação entre as agências de fomento da América?
Mesquita Neto – Em 2019, a FAPESP sediou em São Paulo a reunião anual do GRC, em parceria com a DFG e o Conicet [Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas de la República Argentina]. Nesse mesmo ano, teve uma reunião regional no Chile e concluímos que era preciso avançar na articulação dos trabalhos da região. Decidimos coordenar, com as agências da Argentina e do Uruguai, a reunião regional em 2020, que seria em Buenos Aires, mas ela foi cancelada por causa da pandemia. Em vez disso, fizemos duas séries de seminários virtuais – uma sobre COVID-19 [FAPESP COVID-19 Research Webinars] e outra sobre infraestrutura de pesquisa [Americas’ Regional Scientific Webinars on COVID-19]. Em novembro, haverá um novo conjunto de seminários nos quais nove entidades, de países como Uruguai, Argentina, Paraguai, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Panamá, México e Colômbia, vão apresentar os mecanismos de que dispõem para fomentar parcerias. Esta é uma iniciativa pioneira, se considerarmos os objetivos e o grande número de entidades envolvidas.

Agência FAPESP – Por que a FAPESP considera importante participar de uma entidade como o GRC?
Mesquita Neto – É um espaço diferenciado, uma possibilidade de sentar frente a frente e conversar com diretores das principais agências de fomento do mundo como DFG, NSF ou NSFC [The National Natural Science Foundation of China]. O acesso a essas entidades fica muito facilitado. Com isso há ganhos tangíveis e intangíveis. Além de visibilidade e contatos, temos acesso a informações sobre as iniciativas em curso no cenário mundial. Isso ajuda a FAPESP a decidir quais políticas de fomento devem ser prioritárias diante do quadro internacional.

Fonte: Agência Fapesp